quinta-feira, 9 de julho de 2009

Cabañas Oro 2003

Este 100% Mencía é elaborado na D.O. Bierzo, Espanha, por Coop. Comarcal Vinícola del Bierzo. O contra-rótulo menciona envelhecimento em barrica, mas não especifica tempo e procedência. 13,7 % vol álc.

Granada, com reflexos alaranjados nas bordas. Em nariz, frutas vermelhas, madeira bem encaixada, baunilha, canela, especiarias. Em boca, confirma frutado e especiarias, apresenta tâninos já bem domados e acidez presente. Fim de boca confirma canela, baunilha. Persistência 20+.

Boca e nariz quase que desmentem a sugestão de maturidade, quase senilidade, oferecida pela cor deste vinho. A fruta ainda está presente, sem a indesejável - porém onipresente - companhia dos aromas de compota. A estrutura sugere que ainda aguenta algum tempo, porém, não creio que melhorará.

Pela safra, imagino que este vinho deve ter chegado ao Brasil por volta de 2005, no máximo 2006, e seguramente estava empoeirando na loja. Arrisquei, pois os R$ 25 permitem... e me dei bem. Pelo preço, é uma ótima compra pra quem gosta de vinhos mais evoluídos. Tem bons atributos, sem defeitos aparentes. Agrada.

Comprado na Adega Santo Amaro em Brasília.

6 comentários:

Cristiano Orlandi disse...

Marcus,

Porque vc considera os aromas de compota indesejáveis?

Forte Abraço!

Cristiano

MFS disse...

Fala Cristiano,

Muito longe de ser um defeito, eu acho que os aromas de compota se tornaram o "lugar comum" da maioria dos vinhos ditos de corte moderno, parkeirizados. Em minha opinião, eles refletem muito mais a mão do enólogo e das tecnologias de vini e viticultura, do que a expressão da uva e do solo, do terroir.

Portanto, eu os considero indesejáveis, porque na mioria das vezes que os encontro, os vinhos são muito iguais, independente da casta, da D.O., do País, do terroir.

E vc, o q acha?

Abs.,
Marcus

Cristiano Orlandi disse...

Marcus,

Bom... vendo da sua forma podemos dizer que talvez seja uma questão de gosto. Sinceramente considero os aromas de compota atraentes e não os considero uma tendência ou sinônimo de falta de autenticidade.

Temos de admitir que Parker influenciou a indústria vinícola por ter um gosto semelhante ao do píblico e não o contrário, isso, na minha modesta opinião, é uma qualidade. Além do mais Parker sempre atribuiu notas altas aos Bordeaux, que em sua maioría não tem esses aromas.

Indesejáveis ou não e de qualquer forma também percebo essa tendência, especialmente nos vinhos do Novo Mundo.

Por fim acho essa uma discussão relevante, bom ponto que acabamos por levantar.

Forte Abraço!

MFS disse...

Eu vejo de outra forma a participação do Parker, assim como de outros críticos, na indústria viti-vinícola.

A opinião destes caras tornou-se de tal forma objeto de desejo de enólogos e vinícolas, que os vinhos produzidos nos últimos 20, 30 anos, em sua grande maioria, principalmente aqueles destinados ao consumo diário, visam conquistar excelentes pontuações, e, desta forma, são produzidos para o gosto dos críticos. Até o velho mundo tem se curvado à isso. Bordeaux, Espanha, inclusive meus preferidos Riojas, até os tradicionalistas portugueses. Com isso, o estilo velho mundo está cada vez mais difícil de se encontrar nos vinhos de entrada.

Gerações de enófilos, conaisseurs e apreciadores foram formados com base nesta oferta. Pois é preciso considerar que um mercado em formação acontece pelos produtos de entrada, não pelos tops (by the way, se quiser começar outra discussão relevante, acho que é aqui que a indústria brasileira de vinhos tem errado historicamente).

Veja que eu não julgo menos qualificado o enófilo apaixonado pelo estilo novo mundo, muito pelo contrário. O que não me agrada é a homogeneidade novo-mundista (muita compota, muita madeira, chips etc) nas ofertas até R$50 (Se convertermos os valores em R$ para US$ ou Euro e compararmos a qualidade das ofertas aqui e lá, teremos mais um bom ponto para discussão).

Portanto, em minha humilde opinião, esta tal crítica especializada mais atrapalha do que ajuda, pois tem contribuído para limitar a formação de paladar, gosto e conhecimento enófilo.

E sigamos com esta discussão.

Abs.,
Marcus

Cristiano Orlandi disse...

Marcus,

Legal, mas continuo achando que Parker só fez o sucesso que fez pq o público, naquele momento, desejava aquele "tipo" de vinho. Mesmo assim Parker, especificamente, teve críticos debaixo dele para vinhos como os Altos Riojas e os Borgonhas...

Hoje em dia, não sei se concorda comigo, os consumidores vem mudando, optam por vinhos mais leves e frutados. A recuperação de alguns Italianos no mercado por sua característica gastronômica e, excluindo o Douro, o crescimento de Portugal comprovam isso. No Novo mundo o crescimento da Pinot Noir chama a atenção também.

Mas numa coisa concordamos, existe há muito tempo sobrevalorização da crítica especializada e isso é ruim. Mas hj em dia isso vem mais das vinícolas que dos consumidores.

A indústria nacional tem que compreender a característica do terroir nacional primeiro, que ele é para brancos e espumantes, depois se profissionalizar epor aí vai... falta muito.

No fim te agradeço por essa 'conversa', é sempre bom ter uma opinião diversa, nos faz pensar e abrir os olhos!

Forte Abraço!

MFS disse...

Cristiano,

Tenho certeza de que nós mais concordamos do que discordamos. O único ponto pra mim é o que veio antes: "o ovo, ou a galinha?".

Obrigado pela oportunidade de trocar idéias, pois estas oportunidades enriquecem muito a nossa percepção da indústria viti-vinícola e até mesmo das nossas preferências.

Abs.,
Marcus

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